O Tigre e o Dragão
- Fernanda Bienhachewski

- há 4 dias
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Atualizado: há 3 dias
Na China, a imagem do Dragão (Long) e do Tigre (Hǔ) representa a dualidade fundamental da filosofia taoísta: o conceito de Yin e Yang, que descreve duas forças opostas, porém inseparáveis e complementares, que se manifestam em todo o Universo. O Yin simboliza o lado escuro, feminino, passivo, frio, lunar e terrestre, enquanto o Yang é o lado claro, masculino, ativo, quente, solar e celestial. Não se trata de uma abordagem maniqueísta de "bem e mal", mas sim de polaridades interconectadas.
O seu símbolo, o Taijitu, ilustra essa dinâmica perfeita: cada metade contém um pequeno círculo da cor oposta, significando que o Yin sempre contém parte do Yang, e vice-versa, num ciclo contínuo de transformação e equilíbrio que governa desde os ciclos da natureza (dia e noite, estações) até o corpo humano e a harmonia cósmica. Esse símbolo transcende a mera iconografia, tornando-se um modelo para a integração dos extremos e a realização da Mestria Interior.

Diferentemente do imaginário ocidental medieval, o Dragão chinês não está ligado somente ao elemento fogo e à destruição. Ele é o representante do poder celestial e transformador, o espírito que evoca nuvens, chuvas e trovões — sinais cósmicos de alterações e mudanças. É a sabedoria que vê além do mundo material. Por sua vez, o Tigre, como força Yin, é a manifestação do poder terrestre, a matéria, associado à coragem e à estabilidade. Ele é a força física, a disciplina enraizada na realidade e a quietude. O Dragão está associado ao movimento ascendente, à atividade, à luz, ao fogo e ao Leste, enquanto o Tigre está ligado ao movimento descendente, à passividade, à escuridão, ao vento e ao Oeste. A representação destes dois animais em pose dinâmica não é sobre a vitória de um sobre o outro, mas sim sobre o equilíbrio dinâmico, em que o Tigre deve permanecer enraizado para que o Dragão possa ascender, garantindo que a força bruta seja temperada pela estratégia.
Na filosofia oriental, particularmente no Taoísmo e no Budismo Chan (Zen), o objetivo não é a escolha ou a rejeição de um lado da dualidade, mas sim a busca pela integração das duas polaridades, o que Buda chamou de Caminho do Meio. Este conceito espiritual enfatiza que a realização não advém dos extremos, mas da conciliação harmoniosa.
Devemos ser capazes de manifestar ambas as naturezas — ser tão estável quanto a montanha (Tigre) e tão fluído quanto a água (Dragão) — encontrando assim o equilíbrio perfeito entre a defesa e a ação. A verdadeira iluminação não é puramente intelectual nem puramente prática, mas a junção destas duas dimensões. Buscar apenas o Yang (Dragão) leva à dispersão e ao excesso de atividade; buscar apenas o Yin (Tigre) leva à inércia e à passividade. O Caminho do Meio é, portanto, o processo de encontrar a calma na atividade e o potencial na quietude, integrando alma e mente. A prática espiritual busca atingir a totalidade do ser humano, lembrando-nos que a força (Tigre) sem sabedoria (Dragão) é destrutiva, e a sabedoria (Dragão) sem força (Tigre) é ineficaz, sendo o equilíbrio entre os dois o caminho para a elevação pessoal, espiritual e cósmica.



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